Todavia, no íntimo da sua alma e do seu coração, libertou-a e pediu-lhe que descansasse. Suprimiu toda e qualquer esperança – essa sim tremendamente egoísta, compreendeu - de que ela resistisse uma vez mais, como fez com as múltiplas doenças, nomeadamente pneumonias, que a atacaram, desde que entrou em coma na madrugada daquele quente mês de Agosto!
Mesmo que sobrevivesse e lutasse naquele imenso sofrimento, o que teria ela à sua espera? Uma cadeira de rodas e uma cama? Um lar? Uma sonda para a alimentar? E o vazio... Para quê? Com que propósito? Com que finalidade? Achava que a irmã merecia muito mais do que isso... Merecia voar livremente e tocar as estrelas e quem sabe descansar finalmente no colo da sua mãe.
Ao longo do tempo que decorreu entre o acidente e a morte, de facto, da Vanessa – de facto, porque a vida dela acabou naquela madrugada – nunca puderam saber ao certo se os ouvia, se compreendia, se se apercebia do mundo a passar à sua volta. Esse foi o maior sofrimento dos longos meses que passaram para todos os que a amavam... a dúvida. E o assistir ao seu sofrimento que não sabiam se só físico ou também espiritual.
Clinicamente, ao que os médicos sabem ou julgam saber, ela não teria a percepção da realidade. Mas eles não poderiam jurá-lo. Houve momentos em que lhes pareceu descortinar compreensão no sofrimento do seu olhar. Houve alturas em que pareceu responder-lhes com o código das piscadelas de olho que tentavam... Seria realidade ou a esperança, que só morre quando a vida termina, de que ela pudesse algum dia recuperar...
***
A vida continuou.
Na altura em que a Vanessa morreu, grávida de 4 meses do Gustavo,o seu segundo filho, Bia tentou mais uma vez ser forte. Havia um bebé dentro dela que precisava de amor, tranquilidade e harmonia. E, na sua cabeça e no seu coração, já tinha perdido a irmã há muitos meses atrás."
in Kanimambo
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